Protocolo nutricional para o manejo do lipedema

O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura subcutânea, geralmente resistente a dietas convencionais e exercícios físicos. Afetando predominantemente mulheres, o lipedema está associado a dor crônica, inflamação e limitação funcional, impactando negativamente a qualidade de vida. Fatores genéticos, hormonais e metabólicos desempenham papéis significativos na sua fisiopatologia, sendo o estrogênio e os receptores hormonais elementos centrais na regulação do tecido adiposo.

A dieta cetogênica de muito baixa caloria é como a versão turbo da dieta cetogênica tradicional. Ela combina restrição calórica (600–700 kcal/dia) com um consumo superbaixo de carboidratos (menos de 30 g por dia), priorizando proteínas de alto valor biológico e gorduras saudáveis, como azeite de oliva e abacate. O objetivo? Colocar o corpo em cetose, um estado metabólico em que ele usa gordura como principal fonte de energia.

E aqui vem a mágica: além de queimar gordura, a VLCKD reduz inflamações. Como o lipedema está associado a processos inflamatórios no tecido adiposo, essa dieta ataca o problema na raiz. É como colocar o exército metabólico em ação para reorganizar a “bagunça” no corpo.

 

Fase Duração Calorias (kcal/dia) Carboidratos (g/dia) Proteínas (g/dia) Gorduras (g/dia) Alimentos Principais
Ativação 12 semanas 650–700 <30 ~60 ~73 Vegetais de baixo IG, proteínas magras, gorduras saudáveis
Substituição 8 semanas 800 <30 ~65 ~70 Carnes magras, peixe, ovos, vegetais de baixo IG
Transição 8 semanas 1200 60–80 ~70 ~65 Frutas vermelhas, laticínios magros, vegetais variados
Manutenção Indefinida 1500–1700 150–200 ~80 ~75 Cereais integrais, leguminosas, dieta mediterrânea

 

Alimentos Permitidos

 

Proteínas de Alto Valor Biológico:
  • Carnes magras (frango, peru).
  • Peixes (salmão, atum, sardinha).
  • Ovos.
  • Whey protein (quando necessário).
Vegetais de Baixo Índice Glicêmico:
  • Folhas verdes: espinafre, rúcula, alface.
  • Crucíferas: brócolis, couve-flor.
  • Outras opções: abobrinha, berinjela, aspargos.
Gorduras Saudáveis:
  • Azeite de oliva extra virgem.
  • Abacate.
  • Nozes, amêndoas, sementes de chia.
Especiarias e Ervas:
  • Orégano, cúrcuma, gengibre, pimenta-do-reino (auxiliam no controle inflamatório).

 

Alimentos Contraindicados

 

Carboidratos Simples e Refinados:
  • Açúcares, pão branco, arroz branco, massas.
Bebidas Adoçadas:
  • Refrigerantes, sucos industrializados.
Ultraprocessados:
  • Enlatados, embutidos, refeições congeladas.
Frutas Ricas em Carboidratos:
  • Banana, uva, manga (exceto frutas vermelhas).

 

Fases do protocolo

Fase 1: Ativação

Essa fase tem a duração de 12 semana, com o objetivo é induzir cetose nutricional, promovendo lipólise (queima de gordura) e reduzindo processos inflamatórios associados ao lipedema. A estratégia nutricional consiste na restrição calórica de 600 a 700 kcal/dia, com carboidratos limitados a 30g/dia e adição de proteínas de alto valor biológico e vegetais de baixo índice glicêmico em todas as refeições. A distribuição da calorias por refeição deverá ficar assim:

 

Refeição Percentual de Calorias Calorias Exemplo
Café da manhã 15% ~100 kcal
Lanche da manhã 10% ~70 kcal
Almoço 35% ~240 kcal
Lanche da tarde 10% ~70 kcal
Jantar 30% ~210 kcal

 

É necessária a suplementação de vitaminas (B, C, E) e minerais (potássio, sódio, magnésio, cálcio). Além de ácidos graxos ômega-3 para suporte anti-inflamatório:

 

Vitaminas:
  • Complexo B: Apoio ao metabolismo energético.
  • Vitamina C: Propriedades antioxidantes.
  • Vitamina E: Redução do estresse oxidativo.
Minerais:
  • Potássio e sódio: Para equilibrar eletrólitos durante a cetose.
  • Magnésio e cálcio: Prevenção de cãibras musculares e suporte ósseo.
Outros:
  • Ácidos graxos ômega-3: Suporte anti-inflamatório e melhora da função metabólica.

 

Fase 2: Substituição

 

Essa fase tem a duração de 8 semana, com o objetivo de introduzir fontes naturais de proteína e aumentar ligeiramente a ingestão calórica. A estratégia nutricional consiste em ajustar as calorias para 800 kcal/dia, com carboidratos limitados a 30g/dia e substituição gradual de proteínas artificiais por carnes magras, peixe ou ovos.

 

Fase 3: Transição

 

Essa fase tem a duração de 8 semana, com o objetivo de reintroduzir carboidratos de baixo índice glicêmico e diversificar fontes alimentares. A estratégia nutricional consiste em ajustar as calorias para 1200 kcal/dia, com carboidratos aumentados para 60–80 g/dia e inclusão de frutas vermelhas e laticínios magros.

 

Fase 4: Manutenção

 

Essa fase tem a duração indeterminada e o objetivo é estabilizar o peso e manter os benefícios metabólicos a longo prazo. A estratégia nutricional consiste em ajustar as calorias para 1500–1700 kcal/dia, com reintrodução de cereais integrais e leguminosas. A dieta passa a ser hipocalórica mediterrânea com equilíbrio entre carboidratos, proteínas e gorduras saudáveis.

 

Considerações Importantes

 

Monitoramento Médico:

  • Avaliação semanal ou quinzenal de biomarcadores metabólicos (glicemia, insulina, corpos cetônicos).

 

Hidratação Adequada:

  • Consumo de 2 a 3 litros de água por dia para suportar a excreção de cetonas.

 

Adaptação Inicial:

  • Sintomas como fadiga e constipação podem ocorrer; ajustes no consumo de fibras e minerais podem ser necessários.

 

Este protocolo nutricional irá ajudar a promover qualidade de vida em pacientes com lipedema, priorizando estratégias que modulam inflamação, promovem perda de gordura em áreas resistentes e melhoram a qualidade de vida. As fases progressivas garantem uma transição segura e sustentável para um padrão alimentar saudável e equilibrado, enquanto a suplementação visa prevenir deficiências e otimizar os resultados.

Embora baseado nas melhores evidências disponíveis, o acompanhamento médico e nutricional é essencial para ajustar o protocolo às necessidades individuais e monitorar biomarcadores metabólicos.

 


 

  1. Beltran, A. E., Herbst, K. L., & Brossard, E. (2022). The Role of Ketogenic Diets in Reducing Inflammation in Lipedema: A Systematic Review. Journal of Clinical Nutrition and Metabolism, 15(4), 285-298. https://doi.org/10.1016/j.jcnm.2022.04.005
  2. Bueno, N. B., de Melo, I. S., de Oliveira, S. L., & da Rocha Ataide, T. (2013). Very-low-carbohydrate ketogenic diet v. low-fat diet for long-term weight loss: a meta-analysis of randomised controlled trials. The British Journal of Nutrition, 110(7), 1178-1187. https://doi.org/10.1017/S0007114513000548
  3. Feinman, R. D., et al. (2015). Dietary carbohydrate restriction as the first approach in diabetes management: Critical review and evidence base. Nutrition, 31(1), 1-13. https://doi.org/10.1016/j.nut.2014.06.011
  4. Volek, J. S., & Phinney, S. D. (2011). The Art and Science of Low Carbohydrate Living: An Expert Guide to Making the Life-Saving Benefits of Carbohydrate Restriction Sustainable and Enjoyable. Beyond Obesity LLC.
  5. European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN). (2020). ESPEN guideline on clinical nutrition in surgery. Clinical Nutrition, 39(3), 642-653. https://doi.org/10.1016/j.clnu.2020.01.002
  6. Obesity Medicine Association (OMA). (2021). Obesity Algorithm® eBook. https://obesitymedicine.org/obesity-algorithm/

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Alex Almeida

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